Monday, September 17, 2012

"Quando eu chego para você e digo que é arte, você aceita, não importa o que"

Nelson Leirner está expondo na Galeria Silvia Cintra no Rio de Janeiro cem imagens estilizadas da Mona Lisa dentro de caixas de acrílico criticando o abuso da tecnologia e banalização da figura da Gioconda.

Nelson Leirner - Cem Monas

Isso me fez pensar um pouco sobre a apropriação e sobre a obra desse artista brasileiro em particular. Sempre polêmico e impactante, Leirner recusou-se durante o período da ditadura a participar das Bienais de 1968 e 1971. Em 1974 criticou o regime militar através da série "A rebelião dos Animais". Em 1988 foi censurado pelo juizado de menores do Rio de Janeiro por causa de intervenções que ele fez com as fotografias de Anne Geddes. 

Belo currículo! Com muitas "pedras na mão", ou na mente, ele apropria-se de coisas e de obras de outros artistas para fazer suas críticas. Adoro artistas que trabalham com apropriações, todos eles acabam sendo um tanto quanto polêmicos.  

Michael Archer fez uma série de considerações em seu livro "Arte Contemporânea: uma história concisa" sobre o tema das apropriações as quais eu questiono. Será mesmo que os artistas hoje deixaram de acreditar em uma idéia de progresso da história da arte? Valores tão importantes como a originalidade acabaram se perdendo? Vocês acreditam que em razão do excesso de informação e da velocidade com que essas circulam, tudo já foi feito em termos de arte?

Eu acredito que a originalidade e a criatividade sempre vieram a partir da renovação de recursos, fontes e estéticas antigas. As grandes obras nunca vieram do nada, elas sempre partiram de alguns pontos de referência, que na mente do artista se transformaram de alguma forma dando início a algo "novo". Nada se cria, tudo se transforma. A apropriação, de certa maneira, sempre existiu na arte e em todos os outros campos. 

Achei engraçado ao ver Leirner dizer as seguintes pérolas em um vídeo que encontrei em seu site:

"Eu nunca pintei um quadro na minha vida. Pintar dá trabalho e eu começei já a me apropriar". 

Até aí tudo bem. Estranhamente relapso, mas ok. Até que veio a seguinte frase:

"Quando eu chego para você e digo: "é arte", você aceita, não importa o que. A arte tem essa liberdade de ser o que você quer" e "Assim é, se lhe parece".



Lembrei de Marcel Duchamp e de sua famosa crítica ao sistema artístico ao colocar um urinol em um museu com o título "Foutain". Tudo muito lindo, muito conceitual. O problema é que muita gente não entende esse tipo de crítica. Cada pessoa vê a obra, qualquer que seja, de maneira subjetiva, por causa de crenças e trajetórias de vida diferentes. Certa vez na faculdade, lembro de ter feito um ensaio fotográfico pensando em uma coisa e a professora fez uma leitura totalmente diferente do que imaginei. O problema que encontro em muitos dos artistas que seguem essa linha de trabalho é que eles deixam a beleza estética de lado para dar mais ênfase ao conceito. Talvez por isso eu goste tanto do trabalho do Andy Wahrol. Ao meu ver, a obra artística tem que ser bonita.

Acho o conceito de Leirner válido, mas não gosto nem um pouco das obras dele. Essa da Mona Lisa então, totalmente desnecessária. 

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